A pressão para mostrar felicidade constante nas redes sociais ajuda a mascarar quem de fato é o seu cliente e quais são os reais interesses dele. Como sua marca pode agir?
Você entra no Instagram e vê pessoas sorrindo com a luz do pôr do sol. Possivelmente uma camisa colorida, óculos escuros, praia ao fundo e drink na mão. Pode ser que a mesma pessoa esteja também no twitter fazendo piada com alguma coisa. No LinkedIn, ela parabeniza colegas promovidos e compartilha textos sobre marketing pessoal. Entre os seguidores, estão influenciadores famosos que sustentam esse fio narrativo de demonstrar uma felicidade plena e contínua a todo tempo. O grande problema é que essa felicidade é falsa e esconde pessoas frequentemente frustradas e deprimidas por trás dos posts sorridentes. É o que aponta estudo feito pelo Grupo Consumoteca, liderado pelo antropólogo Michel Alcoforado.
E o que sua marca tem a ver com isso? Tudo. Afinal, se estamos frequentemente falando sobre os cuidados com o relacionamento com o cliente, sobre o entendimento mais aprofundado do usuário final, precisamos nos preocupar em entender de fato quem são essas pessoas, muito além daquilo que elas demonstram em redes sociais.
O que diz o estudo?
Em uma etapa quantitativa que ouviu cerca de 3 mil pessoas em aplicativos online no Brasil, México, Argentina e Colômbia, um dado específico sobre os brasileiros chamou atenção: 58% dos entrevistados revelaram estar insatisfeitos com a vida atual. Entre os países pesquisados, somos o mais insatisfeito.
Oito a cada dez pessoas disseram não conseguir tirar seus projetos do papel. Pelo menos quatro a cada dez pessoas avaliaram que não fazem tudo que poderiam para alcançar a felicidade. E 35% dos entrevistados brasileiros disseram que se sentem negativos quando acompanham a vida de outras pessoas nas redes sociais.
Em entrevista ao portal Meio & Mensagem, o responsável pelo estudo falou um pouco mais sobre os impactos dos resultados no mundo do consumo.
Qual é a discussão que precisa ser feita nas empresas?
Na entrevista citada, existe um ponto muito relevante em uma das falas de Alcoforado: da mesma forma que as empresas vivenciaram problematizações sobre padrões de corpo, questões de gênero, questões étnicas e a forma de se relacionar com o consumidor, é tempo das empresas colocarem em pauta a saúde mental.
O movimento de “pregar” a positividade constante traz um malefício profundo por um viés coletivo. As pessoas se sentem pressionadas a serem felizes o tempo todo. Essa pressão funciona por duas pontas: por um lado sufoca a pessoa que está ali o tempo inteiro ignorando suas angústias para demonstrar que está bem e feliz, enquanto também se vale disso para constantemente se esquivar de lidar com o sofrimento.
Pela ótica mercadológica, a tendência do branding pessoal também conduz a uma desumanização das relações, uma vez que as pessoas se tornam marcas e a cobrança pelos relatos de felicidade pode se tornar maior por parte das empresas que contratam os serviços ou fazem parcerias.
Neste cenário, vem o questionamento: se o design de serviços prega constantemente a necessidade de você conhecer bem o seu usuário, com quem de fato você deseja se relacionar: o seu cliente nas redes sociais ou seu cliente na vida real? Sua pesquisa sobre os usuários consegue abranger o que se passa com ele fora das redes? Você consegue entender os interesses do seu público para além daquilo que ele posta? O que você oferece tem mais conexão com a persona das redes sociais ou com quem ele é na vida real?
Informações relevantes sobre o público com o qual você deseja se relacionar são muito mais valiosas do que um post pago com o nome da sua marca. Quer entender como aprofundar a pesquisa sobre os seus usuários? Entre em contato com a gente.
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